História

English version

A Quinta actual terá sido parte de uma quinta muito maior que, através de sucessivas partilhas, foi vendo reduzida a sua dimensão. Actualmente possui apenas 4000 metros quadrados.

Terá tido originalmente a designação de Casal da Carrasca, denominação perfeitamente adequada à mata de carrascais que se desenvolve nas encostas calcárias a sul de Arruda. Por vezes aparece referenciada como Casal da Canastra, mas tal pode ficar a dever-se a uma confusão caligráfica trocando os dois “rr” por um “n”.

A casa, totalmente em pedra e argila, foi registada na matriz em 1937 e o poço ostenta, na sua singular cobertura ogival, a data de 1957.

Pode ler-se na caderneta do registo predial que a parte rústica foi inscrita na matriz em 1959 e que possuía três parcelas:

  • Uma primeira parcela com 1 oliveira e 0.164 hectares de vinha.
  • Uma segunda parcela com 1 cerejeira, 1 oliveira, 5 macieiras, 0.183 hectares de vinha e uma dependência agrícola.
  • Uma terceira parcela de 0.024 hectares constituindo um logradouro.

Apesar de serem duas áreas pequenas de vinha, produzia-se vinho na propriedade, pois foram encontrados na arrecadação espremedores de uvas, barricas de vinho e, no logradouro, vários arcos metálicos, alguns gigantes, para cintar as aduelas dos barris.

À dependência agrícola chamavam os antigos proprietários a “Casa da Burra” e, pela sua dimensão e localização, é verosímil que aquela casinha de pedra coberta com telha tenha sido estábulo de um jumento. Tendo em atenção o pendor agrícola da propriedade e o caminho tortuoso até Arruda, uma burra deveria ser o transporte ideal para a logística da propriedade.

Das árvores originalmente referidas em 1959 apenas encontrámos as oliveiras e duas ou três cepas antigas. Em compensação havia a acrescentar uma laranjeira carregada de laranjas doces, uma laranjeira carregada de frutos amargos,  dois pessegueiros antigos e três magníficas nogueiras.

WP_20160207_16_38_56_Pro Laranjeira e casa

As nogueiras foram plantadas pelo Senhor Joaquim, familiar afastado dos proprietários, que as deu à terra em 1994. São hoje árvores gigantes e lindíssimas.

Poucos dias depois de tomarmos posse da propriedade, encontrámos dezenas de cabras pastando pelos terrenos da quinta e conhecemos o Senhor Joaquim, pastor e vizinho e amigo.

WP_20160329_18_50_02_Pro Cabras pastando na quinta

E ficámos também impressionados com a Maravilha, uma cadela-pastor sempre atenta às cabras transviadas.

WP_20160329_18_49_21_Pro cadela Maravilha observando as cabras

 

Como chegámos a esta Quinta

Foi em Fevereiro de 2015 que nos entusiasmámos com a ideia de ter um espaço no campo onde pudéssemos passar os nossos tempos livres e dar morada ao pequeno Arboreto que se ia expandindo pelas nossas varandas citadinas. Queríamos vastidão, vistas sobre  serras agrestes ou  campos cultivados.

Também sabíamos o que não procurávamos. Estávamos certos de que não andávamos à procura de um espaço vago entre duas moradias já existentes onde pudéssemos instalar uma casa e um pequeno jardim. Uma boa casa já a tínhamos em Lisboa. Não precisávamos de outra assim.

Na verdade nem na casa pensávamos. Um terreno urbano seria certamente caríssimo. Talvez a solução passasse por encontrarmos uma ruína que pudesse ser reconstruída no meio de uma montanha.

Também considerámos importante que o terreno que buscávamos não estivesse muito distante de Lisboa. Queríamos manter o apartamento que aí possuíamos.  Poder ir e voltar na mesma tarde constituíu assim mais um requisito.

Partimos portanto para a nossa aventura com três critérios: Vistas desafogadas, terreno rústico com uma ruína e a menos de 50 km de Lisboa. Talvez estivéssemos a pedir muito e fosse impossível encontrar uma propriedade com estas características. Era um sonho, mas também não queríamos menos do que isso. E não tínhamos pressa nenhuma.

Iniciámos uma peregrinação de quase 50 semanas aos montes e montanhas à volta de Lisboa. Fizemos mais de 4000 km de automóvel pelas estradas mais estreitas, sinuosas e pedregosas da região, tendo frequentemente de voltar para trás pela dificuldade dos acessos. Falámos com pessoas nas aldeias recônditas, anotámos todas as placas de terrenos em venda, consultámos anúncios na Internet. Saímos frequentemente do carro e aventurámo-nos pelas veredas acima em busca do paraíso, sempre na esperança de que chegasse o momento em que sentíssemos que era ali mesmo que queríamos estar.

Começámos na Margem Sul, na Charneca da Caparica, onde vimos o primeiro terreno a 28 de Fevereiro de 2015. Estivemos depois na Arrábida e em Palmela. Alguns terrenos eram muito bonitos mas estavam também acima da nossa capacidade de investimento. Pediram-nos um milhão de euros por um Moinho.

Passámos o foco da nossa pesquisa para o Norte do Tejo, primeiro em Santo Antão do Tojal, depois em Lousa e de seguida em Cabeço de Montachique onde encontrámos um terreno que muito nos agradou. Era relativamente pequeno. Confrontava com uma Zona de Paisagem Protegida e, estando num pequeno planalto, tinha uma vista muito desafogada. Era caro para o tamanho, pelo que reiniciámos a nossa pesquisa mais longe.

A nossa paixão seguinte foi em Pêro Negro. O Senhor António Baptista trabalhava na berma da estrada quando deu conta que olhávamos para um terreno que estava à venda. Sugeriu-nos uma outra propriedade que tinha sido sua. Fomos ver. Gostámos e voltámos lá durante muitas semanas. Era um terreno a descer suavemente para um pequeno rio, o que lhe acrescentava charme. Na encosta em frente estava plantada uma vinha lindíssima. Encontrámos ali as vistas desafogadas que procurávamos, mas não havia ruína e o terreno era agrícola. O Senhor Baptista, restaurador de móveis antigos e mestre em todas as artes, também já tinha solução para o problema pois sabia construir casas em madeira apoiadas sobre as rodas de galeras de camião, ou com contentores marítimos. Não chegámos a acordo de preço com o vendedor e a aventura de Pêro Negro ficou por ali.

Ainda procurámos terrenos em Dois Portos, mas estávamos claramente a afastar-nos do critério da proximidade a Lisboa. Não nos entusiasmámos muito com Sobral de Monte Agraço. E um dia desaguámos em Arruda dos Vinhos, o vale encantado como os locais lhe chamam. Conhecíamos mal Arruda, mas aquele vale tão bonito, solarengo, coberto de vinhas e terrenos agrícolas, encaixado entre as montanhas suaves a Norte e os contrafortes pedregosos da Primeira Linha de Torres , despertou-nos uma imensa vontade de encontrar por ali um pedaço de terra.

Passámos várias semanas a percorrer os entornos altos que dominam o vale, encontrando em todos eles beleza e serenidade. Já não estávamos longe do nosso destino. No dia 3 de Outubro de 2015, depois de mais um dia de pesquisa pela região de Arruda, subimos a serra na direcção de São Tiago dos Velhos e encontrámos, numa das curvas dessa estrada nacional, um terreno com uma placa contendo a palavra mágica “Vende-se”. Era um terreno lá em cima, cerca de seis metros acima da cota da estrada. Adivinhava-se uma propriedade que subia a encosta até uma impressionante parede de rocha calcária. Imaginámos que pudesse ter umas vistas espectaculares. Tinha uma ruína grande. Quem sabe se não estaria ali o que procurávamos há tantas semanas? O acesso ao interior da propriedade era extremamente precário: Umas escadas desfeitas, estreitas e escorregadias.

Anotámos o telefone do intermediário e no dia 8 visitámos a propriedade. Estava abandonada há décadas, havia silvados por todo o lado, a casa de pedra estava partida em vários lados e havia riscos de ruir um alpendre, um anexo e ainda a pequena adega. Claramente não estava habitável nem habitada há muito tempo.

Havia algumas couves plantadas por um familiar dos proprietários, protegidas dos coelhos por umas redes improvisadas. Subimos a custo  por entre as silvas até meio da encosta e ficámos deslumbrados. Tínhamos encontrado a vista desafogada que tanto procurávamos. O horizonte estava a dezenas de quilómetros e, ao fundo, via-se o Tejo sereno. E, em frente de nós, praticamente selvagem, erguia-se a majestosa montanha do Forte do Cego.

O que estávamos nós a ver ali que os outros compradores não tinham visto? Segundo o intermediário as pessoas achavam os 90 metros quadrados da ruína insuficientes para os seus projectos de casa e entendiam que seria muito difícil a construção de um acesso da estrada ao interior da propriedade.

Para nós a área da ruína era mais do que suficiente. Até podia ser menor. Já o problema do acesso era um problema verdadeiro, que demoraríamos meses a resolver. Mas naquele mês de Outubro tudo o que nos apetecia era ir buscar uma cadeira e sentarmo-nos felizes ali a meia-encosta, rodeados de natureza selvagem e imersos na melodia dos pássaros.

Ainda vimos mais alguns terrenos depois daquela visita, mas nada parecia ter o encanto que ali descobrimos. Em Dezembro acertámos um preço justo com os muitos herdeiros da propriedade, sinalizámos a compra  e, no dia 17 de Fevereiro de 2016, fizemos a escritura notarial do terreno.

Nasceu nesse dia a Quinta dos Arnaut.

———

History

The current Quinta was part of a much larger farm that, through successive shares, has been reduced in size. Currently it has only 4000 square meters.

Originally it was known as Casal da Carrasca, a name perfectly suited to the forest of Quercus Coccifera  that develops on the limestone slopes south of Arruda.

The house, totally in stone and clay, was registered  in 1937 and the well bears, in its singular ogival cover, the date of 1957.

In 1959 it had a few olive trees and fuit trees and two small areas of vineyard. Wine was produced on the property, as grapes, wine barrels and equipment for pressing the grapes were found in the store, and several metal hoops and staves of barrels were found in the backyard.

It still exists an agricultural dependence the former owners called the “House of the Donkey” and, because of its size and location, it is plausible that this small stone house was a stable. Taking into account the agricultural activity of the Quinta and the winding road to Arruda, a donkey must have been the ideal transport for the logistics of the property.

Of the trees originally mentioned in 1959 we only found the olive trees and two or three old strains. On the other hand there was an orange tree laden with sweet oranges, and another one laden with bitter fruit, two old peach trees, and three magnificent walnut trees.

When we took possession of the property in 2016, it had been abandoned for decades and was used as pasture for the goats of a friendly neighbour.