Estivemos seis semanas longe da Quinta. Na verdade este longe tem um significado físico, porque nela pensámos diariamente. Se hovesse condições para por lá termos ficado, a nossa existência teria sido bem menos dura. Ali teríamos espaço para sair andando pelos Jardins e pelo Arboreto, imersos em sol e o ar puro, e tempo para continuarmos a trabalhar neste projecto intemporal.
Não foi assim. Estivemos, como todos os citadinos, confinados no nosso apartamento, espreitando o Mundo pela Internet e encomendando comida online, trazida pelos estafetas salvadores.
A primeira semana foi particularmente difícil porque não choveu e já imaginávamos a desgraça dos jardins, transformados em campos de plantas secas e irrecuperáveis. Depois o São Pedro ouviu as nossas preces e encarregou-se de regar tudo com suficiente abundância.
Finalmente chegou o desconfinamento no início de Maio e regressámos rapidamente à Quinta, curiosos sobre o que iríamos encontrar. A primeira imagem logo à chegada foi premonitória: Estava tudo bem, tão bem que as ervas daninhas tinham tudo invadido, escondendo e protegendo as nossas relíquias botânicas de uma meteorologia pronunciadamente estival.
Apenas duas em quatrocentas plantas não resistiram a esta ausência, mas estavam já fraquinhas quando fomos forçados a abandoná-las à fúria dos elementos. Não, não vamos culpar o covid-19 pelo seu destino.
É verdadeiramente impressionante a velocidade a que uma Quinta regressa ao tempo selvagem quando estamos ausentes. Todas as plantas cresceram, mas as que a natureza plantou sózinha cresceram muito mais depressa, envolvendo e abafando todas as outras.
Só agora, já no final de Junho, conseguimos repor a ordem inicial. Demorámos seis semanas a recuperar do abandono de seis semanas.