Rubus ulmifolius na estrutura de um silvado

Em Portugal designamos por silvado duas formações vegetais que podem ser distintas: Por uma lado referimo-nos a sebes formadas por arbustos espinhosos, como o Prunus spinosa, plantados na orla dos terrenos para proceder à sua delimitação e dificultar o acesso a pessoas e a animais. Por outro lado referimo-nos também a espaços intransitáveis para o ser humano pela presença concentrada e entrelaçada de silvas (Rubus ulmifolius).

WP_20160329_16_46_47_Pro Silvado no Belveder

A Rubus ulmifolius é uma planta da família das Rosaceae classificada por Schott em 1818 e muito comum na região mediterrânica, no Oeste da Europa e na Macaronésia. Tem uma bonita floração rosa-esbranquiçada na Primavera com flores de 5 pétalas, das quais resultarão as amoras silvestres. São frutos deliciosos do tipo polidrupa, negros, que atraem o nosso apetite a partir de Agosto. Pena é que as nossas tentativas para apanhar mais esta e aquela amora terminem, invariavelmente, em arranhões provocados pelos acúleos que revestem o caule das silvas.

WP_20160329_17_41_44_Pro Rubus ulmifolius ramo com seis metros de comprimento

Depois de várias décadas deixadas à vontade, as silvas invadiram as zonas mais húmidas da Quinta, formando moitas quase impenetráveis. Adoram as linhas de água que cobrem de forma tão intensa que tapam a luz. Com este expediente dificultam o aparecimento de outras espécies. São muito difíceis de erradicar porque têm uma longevidade da ordem dos 25 anos, porque rebentam espontaneamente a partir dos ramos cortados, porque germinam com facilidade nas zonas húmidas e também porque quando os ramos arqueados tocam o solo desenvolvem novas raízes e dão origem a novas plantas.  Retirámos ramos com mais de 8 metros de comprimento que tinham raízes nas suas duas pontas. Perpetuam-se infinitamente e vão aumentando a sua área de implantação.

WP_20160409_12_40_47_Pro Limpeza silvado no Belvedere

Aliando esta sua característica de desenvolver ramos muito compridos ao hábito trepador, a Rubus ulmifolia pode cobrir completamente árvores como as oliveiras ou os carvalhos. Na fotografia anterior vê-se uma área do Belvedere acabada de limpar do silvado que a ocupava totalmente. Os carvalhos (Quercus faginea var. broteroi) , que se situam muitos metros acima, já tinham as suas copas inundadas de silvas e são visíveis ramos de Rubus ulmifolia já cortados mas ainda pendentes.

WP_20180306_14_09_12_Pro Estrutura vertical de um silvado

Em algumas zonas da Quinta encontrámos uma associação curiosa entre a Rubus ulmifolia, a Rosa sempervirens e a Smilax aspera. A Rubus ulmifolia constitui a macroestrutura de suporte do silvado, a Rosa sempervirens as longarinas verticais e a Smilax aspera as uniões entre umas e outras. Afinal o nosso processo de construir pilares de betão armado utiliza os mesmos princípios que a natureza aprendeu a utilizar para garantir estruturas resistentes.

WP_20180315_14_55_19_Pro Tesoura e luvas para o silvado

Fiéis aos nossos princípios de um ecossistema sustentável não combatemos os silvados de uma forma química mas da forma mais tradicional possível. Por isso andamos permanentemente cheios de arranhões.

 

 

 

 

3 thoughts on “Rubus ulmifolius na estrutura de um silvado

  1. Pingback: Lavatera olbia, um gigante escondido – Quinta dos Arnaut

    1. Obrigado Mariana pelo seu comentário. A Quinta esteve abandonada quase quarenta anos, permitindo o crescimento incontrolável destas estruturas de espécies cooperativas. Sabe outra coisa interessante? Terreno onde crescem silvas é terreno especialmente adequado para as roseiras. Estas primas das silvas têm crescido loucamente na Quinta e são agora um dos nossos orgulhos.
      Volte sempre
      Filipe Arnaut

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