Em Portugal designamos por silvado duas formações vegetais que podem ser distintas: Por uma lado referimo-nos a sebes formadas por arbustos espinhosos, como o Prunus spinosa, plantados na orla dos terrenos para proceder à sua delimitação e dificultar o acesso a pessoas e a animais. Por outro lado referimo-nos também a espaços intransitáveis para o ser humano pela presença concentrada e entrelaçada de silvas (Rubus ulmifolius).
A Rubus ulmifolius é uma planta da família das Rosaceae classificada por Schott em 1818 e muito comum na região mediterrânica, no Oeste da Europa e na Macaronésia. Tem uma bonita floração rosa-esbranquiçada na Primavera com flores de 5 pétalas, das quais resultarão as amoras silvestres. São frutos deliciosos do tipo polidrupa, negros, que atraem o nosso apetite a partir de Agosto. Pena é que as nossas tentativas para apanhar mais esta e aquela amora terminem, invariavelmente, em arranhões provocados pelos acúleos que revestem o caule das silvas.
Depois de várias décadas deixadas à vontade, as silvas invadiram as zonas mais húmidas da Quinta, formando moitas quase impenetráveis. Adoram as linhas de água que cobrem de forma tão intensa que tapam a luz. Com este expediente dificultam o aparecimento de outras espécies. São muito difíceis de erradicar porque têm uma longevidade da ordem dos 25 anos, porque rebentam espontaneamente a partir dos ramos cortados, porque germinam com facilidade nas zonas húmidas e também porque quando os ramos arqueados tocam o solo desenvolvem novas raízes e dão origem a novas plantas. Retirámos ramos com mais de 8 metros de comprimento que tinham raízes nas suas duas pontas. Perpetuam-se infinitamente e vão aumentando a sua área de implantação.
Aliando esta sua característica de desenvolver ramos muito compridos ao hábito trepador, a Rubus ulmifolia pode cobrir completamente árvores como as oliveiras ou os carvalhos. Na fotografia anterior vê-se uma área do Belvedere acabada de limpar do silvado que a ocupava totalmente. Os carvalhos (Quercus faginea var. broteroi) , que se situam muitos metros acima, já tinham as suas copas inundadas de silvas e são visíveis ramos de Rubus ulmifolia já cortados mas ainda pendentes.
Em algumas zonas da Quinta encontrámos uma associação curiosa entre a Rubus ulmifolia, a Rosa sempervirens e a Smilax aspera. A Rubus ulmifolia constitui a macroestrutura de suporte do silvado, a Rosa sempervirens as longarinas verticais e a Smilax aspera as uniões entre umas e outras. Afinal o nosso processo de construir pilares de betão armado utiliza os mesmos princípios que a natureza aprendeu a utilizar para garantir estruturas resistentes.
Fiéis aos nossos princípios de um ecossistema sustentável não combatemos os silvados de uma forma química mas da forma mais tradicional possível. Por isso andamos permanentemente cheios de arranhões.
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Muito interessante! Bom trabalho! É bom que se escreva também sobre as espécies menos desejadas!
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Obrigado Mariana pelo seu comentário. A Quinta esteve abandonada quase quarenta anos, permitindo o crescimento incontrolável destas estruturas de espécies cooperativas. Sabe outra coisa interessante? Terreno onde crescem silvas é terreno especialmente adequado para as roseiras. Estas primas das silvas têm crescido loucamente na Quinta e são agora um dos nossos orgulhos.
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Filipe Arnaut
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